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Pecuária

Sistema de integração entre pecuária e plantio de teca será lançado em Mato Grosso

Parceria entre a Embrapa e a empresa TRC oferece solução para pecuaristas

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Gado e teca na fazenda Bacaeri, de Alta Floresta (MT), que inspirou o sistema BoiTeca — Foto: Divulgação/Bacaeri

Será lançado na próxima quinta-feira (8/5) na fazenda Duas Lagoas em Cáceres (MT) o sistema Bacaeri-BoiTeca, uma parceria entre a Embrapa e a brasileira TRC (Teak Resources Company), maior produtora e exportadora mundial de teca plantada, com faturamento bruto de US$ 150 milhões. Inspirado no primeiro sistema de integração pecuária-floresta (silvipastoril) com clones de teca implantados em 2008 na Fazenda Bacaeri, no município de Alta Floresta (MT), o BoiTeca será apresentado a pecuaristas como uma opção sustentável de segunda renda a longo prazo sem gastos para o produtor.

Fausto Takizawa, diretor de pesquisa de desenvolvimento e relações institucionais da TRC, conta que a empresa iniciou em 1994 o plantio no Mato Grosso de 1.000 hectares de teca, madeira nobre de maior valor agregado. Na época, a empresa se chamava Floresteca e foi criada graças a um fundo de investimentos holandês captado pelo fundador Sylvio Coutinho Neto. O foco sempre foi a exportação.

Hoje, 31 anos depois, a TRC é gestora de cinco fundos de investimentos florestais de teca com plantios de 40 mil hectares no Mato Grosso e Pará e indústria em Cáceres. A segunda planta está sendo construída em Santa Maria das Barreiras (PA), com investimento de R$ 30 milhões.

Primeiro sistema de integração pecuária-floresta (silvipastoril) com clones de teca foi implantado em 2008 na Fazenda Bacaeri, em Alta Floresta (MT) — Foto: Divulgação/Bacaeri

“A empresa é uma prestadora de serviço, gestora e comercializadora da madeira teca. Funciona como um ecossistema que pega o dinheiro dos investidores e viabiliza o processo de produção, mais a logística e exportação.”

Ao longo dos anos, com o avanço da agropecuária, a terra no Mato Grosso começou a se tornar muito cara, e o Brasil começou a ficar pouco atrativo para investimentos estrangeiros de longo prazo, como é o caso da teca, que demanda cerca de 20 anos para o corte da madeira.

Diante dessa redução de atratividade, a empresa teve que buscar outra alternativa para manter o estoque de madeira para exportação. Como o Mato Grosso é o estado com maior rebanho bovino do país e o sistema silvipastoril da Embrapa já mostrava segurança técnica e viabilidade econômica, a TRC foi atrás da parceria, adotou a tecnologia no ano passado e já plantou 600 hectares, que serão mostrados nesta quinta a pecuaristas convidados. O plano da empresa é substituir aos poucos o plantio puro pelo BoiTeca.

“O sistema silvipastoril desenvolvido pela Embrapa nos deu segurança técnica e viabilidade econômica. O pecuarista disponibiliza sua área de pasto para o plantio da teca, não gasta nada com plantio e manutenção das árvores e fica sócio na renda da madeira”, explica Eduardo Prado, diretor de novos negócios da TRC.

Eduardo Prado e Fausto Tekizawa, diretores da TRC — Foto: TRC/Divulgação

Segundo ele, o faturamento de um hectare na época de corte da teca deve se equiparar ao valor da terra e o gado usufrui da sombra e do conforto térmico, melhorando a eficiência da produção de carne. No monocultivo, a produtividade da teca é de 300 metros cúbicos por hectare, mas são plantadas 500 árvores para chegar a 140 árvores no final do ciclo. No sistema carne com floresta do BoiTeca, cai para 160 metros cúbicos por hectare, mas não há necessidade de desbaste e o metro cúbico é mais valioso.

Maurel Behling, engenheiro-agrônomo e pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril, fez uma pré-apresentação do sistema Bacaeri-BoiTeca durante a Norte Show, feira agrícola que aconteceu em Sinop, de 14 a 17 de abril, e destacou as vantagens para o pecuarista.

Segundo ele, uma das barreiras para o aumento do plantio no Brasil de teca é a falta de mão-de-obra. Na parceria com a TRC, não há esse problema porque a empresa já tem o know how e assume totalmente o plantio e manejo da árvore.

Espécie tropical do sudeste asiático, a árvore não suporta frio ou geada e precisa de 1.500 mm de chuva por ano, no mínimo, com estação seca marcante.

“O BoiTeca é a maximização de ganho da árvore mantendo a produtividade da pecuária, mas é exclusivo para pecuaristas profissionais que adotam tecnologia. A teca requer solos com fertilidade média elevada”, diz Behling, acrescentando que o plantio pode crescer para o norte do país e ocupar outras áreas no Cerrado e também em Goiás. O cientista projeta uma demanda futura global de 150 milhões de metros cúbicos de teca.

Exportação

A TRC corta teca desde 2006, exporta 10 mil contêineres por ano e tem cerca de 1.800 clientes diretos na Ásia. A madeira em toras vai para a construção civil da Índia e para fabricantes de móveis da China e Vietnã, que exportam depois o produto pronto até para o Brasil. Europa e Estados Unidos compram a madeira premium beneficiada, sem defeito e com certificação ambiental (a empresa tem a certificação FSC, Forest Stewardship Council), para fabricação de decks e pisos.

Prado afirma que o preço da teca tem variado bem nos últimos anos, mas bem menos que a soja e os outros grãos. Hoje, o preço é inferior ao de cinco anos atrás, mas a tendência é de crescimento nos próximos cinco a oito anos, já que a teca nativa da Ásia está com restrição de corte e muitas florestas que estão sendo colhidas não serão replantadas.

Takizawa diz que há uma dificuldade em estabelecer a parceria de longo prazo com os pecuaristas que abriram áreas há 40 anos, mas os sucessores já veem vantagens na integração porque, além de não ter custos e de elevar a renda no futuro, ainda podem fazer negócios com o sequestro de carbono da atividade silvipastoril.

Atualmente, a empresa tem parceria com seis pecuaristas e espera fechar com 10 até o final do ano. O diretor de pesquisa diz que a TRC está sendo procurada por pecuaristas interessados na parceria, mas um entrave é que muitos têm suas fazendas em áreas em que a empresa não atua.

Plantio de teca — Foto: TRC/Divulgação

Com genética importada, a produtividade da teca aumentou até 60% na comparação com os plantios iniciais, se tornou mais resistente a doenças e tem um rendimento maior na serraria. A TRC está desenvolvendo uma cultivar nacional, que deve ser lançada em breve, segundo os diretores.

Bacaeri

O consórcio de pastagens com teca foi adotado pela Bacaeri em 2008 após o proprietário, Antonio Francisco Passos, perceber o potencial de crescimento da teca no tipo de solo e clima da fazenda e levantar informações sobre o preço final de venda da teca e a escassez crescente da madeira nativa. Ele já plantava teca em monocultura e criava gado.

No início, o sistema silvipastoril ocupou 50 hectares. Em 2012, a Embrapa se interessou pelo modelo.

“Recebemos a visita de alguns técnicos que demonstraram contentamento por encontrar o sistema já implantado em nossa fazenda, com bastante dados registrados, e nos propuseram uma parceria. Aceitamos e a Bacaeri se tornou uma Unidade de Referência de Pesquisas em Tecnologia e Economia (URTE) da Embrapa visando compartilhar informações e ampliar as pesquisas”, diz Passos.

Atualmente, a fazenda de 20 mil hectares, com 12 mil hectares de florestas nativas, tem 1.000 hectares de BoiTeca, 1.200 hectares de reflorestamento de teca no sistema convencional, 2.000 de integração lavoura-pecuária, 800 hectares de pecuária intensiva em sistema rotacionado e 3.000 de pecuária no sistema tradicional, em transformação.

Passos diz que vem fazendo desbastes na monocultura de teca e vendendo as madeiras desde 2007, mas o investimento começa a ter retorno mesmo após o corte final da madeira. Segundo ele, o simples plantio de teca na integração com o boi não aumenta, mas também não diminui o rendimento da pecuária.

Com o ganho em conforto para os animais e a expectativa de renda futura com a venda da teca, a área de BoiTeca da Bacaeri deve crescer até ocupar 75% das terras destinadas à pecuária.

Nos últimos plantios do sistema integrado, Passos usou o espaçamento de 20 metros entre as linhas e 3 metros entre as plantas, mas já houve vários arranjos de espaçamento de 15 a 22 metros. Entre as plantas, também se usou espaço de 2,5 a 5 metros.

“Seguimos fazendo testes porque ainda não temos a resposta definitiva para o melhor aproveitamento do sistema”, diz o produtor, que construiu uma serraria na fazenda para processar a madeira.

Além da Embrapa, a fazenda de Alta Floresta também faz testes com a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e com a Universidade do Estado do Mato Grosso para aprimorar o sistema.

A Embrapa também implantou outras URTs para pesquisa e validação de arranjos com teca no Mato Grosso na Fazenda Gamada, no município de Nova Canaã do Norte, na Fazenda Brasil, em Barra do Garças, e na Fazenda São Paulo, em Brasnorte.

Fonte: Por Eliane Silva — Ribeirão Preto (SP) / Globo Rural

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Destaques

Semana foi marcada por queda da arroba do boi; o que esperar até o fim do mês?

Disponibilidade de fêmeas e escalas de abate folgadas explicam a queda das cotações na primeira quinzena de maio, mas outros fatores se juntam para definir os preços nas próximas semanas.

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O mercado brasileiro de boi gordo registrou queda de preços em algumas praças de comercialização do Brasil.

Segundo o analista de Safras & Mercado Allan Maia, as indústrias frigoríficas ainda contam com uma posição confortável em suas escalas de abate, que hoje atendem entre sete e nove dias úteis na média nacional.

Ele ressalta que a disponibilidade de fêmeas bovinas no mercado segue elevada, apontando para um alto descarte de matrizes. “Como ponto de sustentação precisa ser mencionado o forte ritmo de embarques, mantendo a demanda por animais jovens aquecida.”

Preços médios da arroba do boi na semana

Os preços da arroba do boi gordo na modalidade a prazo nas principais praças de comercialização do Brasil estavam assim no dia 15 de maio em comparação à última sexta (9):

São Paulo (Capital): R$ 310, inalterado frente à semana passada
Goiás (Goiânia): R$ 295, sem alterações
Minas Gerais (Uberaba): R$ 295, queda de 1,67% em comparação aos R$ 300 do fechamento da semana anterior
Mato Grosso do Sul (Dourados): R$ 300, estável
Mato Grosso (Cuiabá): R$ 305, baixa de 3,17% em relação aos R$ 315 praticados na semana passada
Rondônia (Vilhena): R$ 270, estável

O que esperar até o fim do mês?

O coordenador da equipe de inteligência de mercado da Scot Consultoria, Felipe Fabbri, ressalta que para aliviar a taxa de lotação, alguns produtores aceleraram as vendas, inclusive de machos, o que deve seguir “contagiando” o mercado na segunda quinzena.

“Por conta disso, seria um mercado que trabalharia mais pressionado. Porém, hoje, com as notícias de influenza aviária na granja do Rio Grande do Sul e a suspensão de exportações de carnes de aves por 60 dias para grandes mercados, como a China, esse volume que não será embarcado deve ser redirecionada ao mercado interno e, com isso, a competitividade com a carne bovina tende a ficar mais pressionada. Assim, pensando em mercado interno, os compradores de boiadas tentarão fazer um preço médio da arroba mais atrativo para garantir as suas margens.”

Fabbri ressalta que o mercado já vinha com tendência baixista, o que deve se reforçar nas próximas semanas por conta da necessidade de competitividade com a carne de frango e a já esperada descapitalização da população na segunda quinzena do mês. “Esses fatores farão com que a oferta chegue mais facilitada à indústria frigorífica, trazendo um cenário de baixa de preços.”

Mercado atacadista do boi gordo

Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Maia informa que o mercado atacadista registrou preços acomodados na semana. O ambiente de negócios ainda sugere um menor espaço para reajustes no curto prazo, considerando um perfil de consumo mais comedido durante a segunda quinzena do mês.

“A população ainda prioriza o consumo de proteínas de menor valor agregado, a exemplo da carne de frango, ovos e embutidos”, ressalta.

O quarto do traseiro do boi foi cotado a R$ 24,00 o quilo, estável frente à semana passada. Já o dianteiro foi vendido por R$ 19,50 o quilo, inalterado frente à semana anterior.

Exportações de carne bovina

As exportações de carne bovina fresca, congelada ou refrigerada do Brasil renderam US$ 342,765 milhões em maio (6 dias úteis), com média diária de US$ 57,127 milhões, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

A quantidade total exportada pelo país chegou a 67,165 mil toneladas, com média diária de 11,194 mil toneladas. O preço médio da tonelada ficou em US$ 5.103,30.

Em relação a maio de 2024, houve alta de 25,7% no valor médio diário da exportação, ganho de 10,9% na quantidade média diária exportada e avanço de 13,3% no preço médio.

Fonte: Com informações de Safras News

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